domingo, 21 de novembro de 2010

“Meu quartinho escuro e bagunçado”


O uso de metáforas é comum pelos pacientes em processo de psicoterapia. Sabe-se que não é sempre possível colocar em palavras o que está no âmbito do sentimento, da emoção, do coração... A metáfora permite que o paciente simbolize o que está no âmbito do vivido e que o terapeuta se aproxime do fenômeno relatado.

A psicoterapia pode ser descrita de diversas maneiras. Recentemente ouvi uma metáfora de uma paciente que considerei bastante pertinente quanto a este tipo de tratamento.

Ela disse sentir como se fosse uma casa que tivesse várias salas ou quartos e que a terapia a permitia passear nesses lugares. Nesta casa, relatou a paciente, havia um quartinho fechado e escuro em que ela se permitia adentrar na terapia e lançar luz nele aos poucos. Esse quarto era repleto de coisas bagunçadas e ela sentia que aos poucos estava colocando-as no lugar. Um sentimento de estranhamento e de medo eram relatados durante o processo de arrumação do quarto. Interessante constatar que após algumas sessões ela conseguiu fazer uma escolha muito importante, que mudaria toda a sua vida.

Um dicionário online definiu metáfora da seguinte forma: “Tropo em que a significação natural de uma palavra é substituída por outra, só aplicável por comparação subentendida” (Dicionário Priberam da língua portuguesa).

Vejamos alguns exemplos:

“Estou sem chão”

“meu relacionamento ta uma merd....”

“Pareço um tapete”

“minha vontade é de voar”

“sinto-me um balão”

“preciso mudar da água para o vinho”

“chorei um rio de lágrimas”

Vejamos outro conceito possível: “Metáfora é uma figura de estilo que consiste na comparação de dois termos sem o uso de um conectivo” (Wikipédia – a enciclopédia livre). No caso da psicoterapia a comparação quase sempre é de si com algo, ou de um sentimento ou situação em que o paciente está implicado sendo comparado com algo.

Percebe-se que a criatividade no uso de metáforas é uma forma de dar côr à dor do paciente e ajuda o terapeuta a compreender melhor esta dor.

Sabe-se que as palavras são importantes, mas nem sempre suficientes para a expressão do sofrimento. Estejamos atentos, até mesmo no nosso dia-a-dia ao que está nas entrelinhas das falas da pessoas, pois isso pode nos ajudar a manter melhor nossos relacionamentos por nos oferecer oportunidade de nos aproximar do outro, compreendê-lo e até mesmo amenizar a dor existencial, pois para doer o coração, basta existir!

Todos nós temos um quarto escuro sobre o qual é necessário lançar luz. Só assim é possível o auto-conhecimento. Porém, é necessário mais do que lançar luz, é necessário ser corajoso o bastante para começar a mudar as coisas de lugar. De nada adiantaria apenas olhar e perceber a bagunça, é preciso isto ser acompanhado de ações. Algumas escolhas permitem esta mudança e a psicoterapia não é o único caminho, mas é um dos possíveis para a transformação.

Janaina Bahia – Psicóloga - Serena Psicologia; professora de Psicologia da religião e aconselhamento cristão da faculdade de teologia FATADEB.