sábado, 26 de junho de 2010

A angústia da espera pela aprovação num concurso público.

Aproveitando o post anterior, resolvi escrever sobre vários atendimentos no consultório de psicologia: a angústia de passar num concurso público e muito comum em Brasília.

Além de estudar bastante, passar em um concurso público é uma fase cheia de frustrações e renúncias. Frustrações por não passar logo de primeira e renúncia de vida pessoal, lazeres, família e etc. Tem muita gente almejando o mesmo objetivo e a cada dia o nível fica mais alto e as provas mais competitivas. Estes dias, fui deixar um parente na Biblioteca Central da Universidade de Brasília - UnB, num domingo ensolarado e não tinha vaga para estacionar....

Logo, é preciso buscar uma força e motivação sobrenatural para conseguir ficar na batalha. E sempre pergunto aos meus pacientes: Por que você quer ser funcionário público? È necessário que estas respostas estejam bem claras para o candidato para que num momento de dificuldade ele lembre que quer passar, por exemplo, por conta da estabilidade financeira, do bom salário, da aposentadoria garantida, etc. Assim, é preciso FOCAR!!!

Além disso, existem outros fatores psicológicos que influenciam no passar no concurso público. Tal como o famoso “branco” no momento da prova, o pensamento negativo e a ansiedade pré-prova.

Se você perceber que deu aquele branco na hora da prova, você realmente não lembra nada, o que fazer? Primeiro, tente ficar calmo, faça algumas respirações bem profundas, vá ao banheiro. Comece a prova pelas questões que você domina e aos poucos, vá adquirindo a confiança. Tente diferenciar o branco de uma desorientação mental ou estresse acentuado.

Outro ponto a ser discutido é a confiança. O candidato precisa acreditar no seu potencial e parar de permear no seu pensamento apenas o dia que ele não estudou tanto, ou no dia que deu uma saidinha ou que não estudou tal disciplina. Vamos observar os êxitos e não apenas os fracassos! Quais foram os seus êxitos na vida? Que indício você possui que não vai passar se estudar muito? É indispensável observar a maneira que se coloca na vida. Às vezes, já chegamos à prova de forma derrotada.

Lembro-me de uma colega de faculdade que demorou muito a se colocar profissionalmente. Ela tinha um bom currículo, mas já chegava pra fazer as entrevistas achando que ela não era tão experiente, que era muito nova, que iam achar isto ou aquilo dela. Assim, é importante CONFIARMOS no nosso potencial.

Além disso, percebo que alguns pacientes estão tomando ansiolíticos – medicamentos para ansiedade. Em minha opinião tudo é válido neste momento. Mas, vamos ressaltar que se você não modificar a maneira de ver este concurso público ou qualquer outro problema que terá que enfrentar corre o risco de utilizar sempre este recurso. Assim, NÃO passar em um concurso público NÃO É uma catástrofe!

E a paciência e a tolerância à frustração são imprescindíveis nesta fase. É importante procurar algum hobby ou atividade física para canalizar energia. Estratégias de relaxamento também são extremamente necessárias neste momento. Vamos lembrar que relaxamento e ansiedade são dois estímulos que se inibem reciprocamente. Ou seja, eu não consigo estar relaxado e ansioso ao mesmo tempo. Assim, procurar respirar com o diafragma ( para hiperventilar) ajudará a diminuir a ansiedade pré-prova.

Por fim, deixo uma frase de Bill Russel: "Sucesso é o resultado da prática constante de fundamentos e ações vencedoras. Não há nada milagroso no processo, nem sorte envolvida. Amadores aspiram, profissionais trabalham".

Luciana Brasil - Psicóloga clínica com formação em Análise do Comportamento e especialização em Cognitivo-Comportamental – Serena Psicologia

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Como estudar?


Bom dia pessoal!
Hoje quero falar de um assunto que é freqüente em nossas vidas. Quem nunca ouviu cobranças relacionadas ao estudo do tipo: “Você precisa estudar!” ou “Só com o estudo você se tornará alguém!” ou ainda com tons mais agressivos ”Vai estudar vagabundo!”. Existem também pessoas que são questionadas por estudar e acabam ouvindo: “Você estuda demais!” ou “Desse jeito você nunca vai arrumar namorado(a).” ou “Você não tem vida social! Que vida mais triste.”
O fato é que sempre haverá cobranças de terceiros, principalmente daqueles mais próximos, nossos familiares. Mães, pais, tios e tias, cada um com suas expectativas, muitas vezes exageradas, sobre nosso futuro profissional e relacional. É freqüente ouvir no consultório a angústia de pacientes por não conseguir entender a inconstância de pedidos de seus familiares. Vou dar um exemplo para ilustrar:
“Pela manhã, mamãe me mandou estudar. Obediente, fui. Após uma hora de estudo, pediu que fosse com ela ao mercado. Fiquei confuso e respondi que estava estudando. Ela ficou zangada, esbravejou e disse que não gosto de fazer nada com ela e que achava a companhia dela desagradável. Não consigo entender o que ela quer!”
Missão impossível esta de agradar as pessoas. Imagine então tentar agradar a tudo e a todos?! O que acontece é que a pessoa se desdobra em mil, fica infeliz e não consegue fazer nada.
Por isso, gostaria de contribuir especificamente com aqueles que passam por uma fase em que precisam dedicar-se em período integral aos estudos, como é o caso dos que estudam para passar no vestibular ou em concursos públicos.
Lembre-se, estudar não é tarefa fácil, exige paciência e muita, muita força de vontade. Listarei alguns tópicos que podem te ajudar, mas não ouso dizer que eles são “regra” para a obtenção de seu objetivo. Cada um deve adaptar a sua realidade e fazer uma minuciosa reflexão acerca da sua motivação para o estudo. Ok?!
1. Qual sua motivação para o estudo? No momento que você vai para sua jornada de estudo é muito importante que tenha sempre em mente o motivo, os objetivos que se quer atingir com aquele empenho. Você não deve estudar por alguém, e sim por você mesmo!
2. Onde você estuda habitualmente? Procure sempre um local confortável, mas CUIDADO!! Não confunda um local confortável com a sua cama. Ficaria confortável demais e fatalmente pegaria no sono. Concorda?? Um local quieto, sossegado, em que não seja interrompido é o ideal. Caso estude em sua casa, tenha uma conversa franca com seus familiares para que estes não te atrapalhem. Como exposto anteriormente, seus familiares vão sempre querer sua atenção, mas você já sabe que não dá para agradá-los o tempo todo. No momento da comemoração, quando atingir seus objetivos, eles não vão nem se lembrar daquele dia que não pode ir a uma festa ou ao mercado.
3. Qual seu plano diário de estudo? Faça um plano minucioso de estudo e trate-o como um compromisso profissional! Todos que já trabalharam sabem que não se pode decidir não ir para o trabalho. Então, por que você decidiria não estudar neste ou naquele dia que já tinha combinado?? Sugiro que faça uma planilha, ou outro método que ache mais adequado, estipulando suas regras de estudo, como por exemplo: Quantas horas estudo? Em que período? Qual matéria estudarei?
4. Tome nota e revise! Um instrumento poderoso é o uso de anotações e resumos. Seus professores todos os dias passarão uma infinidade de conceitos. Não dá para guardar tudo de uma só vez. Por isso, tome nota das exposições em sala de aula e revise suas anotações pelo menos uma vez por semana. Assim, ficará muito mais fácil guardar os conceitos.
5. Disciplina – Você é disciplinado? Bom, eu mesma não sou muito disciplinada e já penei muito por causa disso. Ouvia várias pessoas dizerem: Você precisa ser mais disciplinada! Mas o que isso quer dizer afinal?? O que consegui descobrir nos atendimentos e mesmo em minha jornada particular foi que:


Disciplina é algo impossível se você não atender ao primeiro tópico, que é saber qual sua motivação para o estudo.
Disciplinado nunca será se você só ficar sonhando e com preguiça. É preciso arregaçar as mangas e trabalhar. Você deve se tornar seu próprio policial! Sempre haverá coisas mais legais e interessantes que estudar, por isso é considerado tão importante ter a famigerada “disciplina”. O uso desta impede que o foco seja perdido.
Não abra exceções! Não adianta falar: ” Mas eu estava disciplinado!” todo trabalho terá sido em vão se você começar a abrir brechas no seu plano de estudo.


6. Você cuida de seu corpo e mente? Para estudar é preciso resistência física e psicológica. Para suportar o tranco é necessário ter uma alimentação saudável, fazer atividades físicas e ter momentos de lazer. Não estou dizendo para virar um marombeiro que passa o dia na academia, ou então um festeiro. Priorizar momentos “determinados” de cuidado com mente e corpo potencializa sua disposição para os estudos. Selecione uma hora de pelo menos um dia da semana para jogar bola, andar no parque, visitar um familiar/amigo ou outra atividade de sua preferência. Daí fortalecerá seu corpo, não prejudicará muito seu convívio social e terá um momento de alívio de tensões.
Enfim, existem vários outros tópicos e a proposta é que você construa os seus. Abro espaço para que todos incluam aqui, no blog Serena Psicologia, dicas pessoais e histórias de vitória e decepções nos estudos. Vamos lá?!

Sofia Lisboa
Psicóloga - Clínica Serena de Psicologia

terça-feira, 22 de junho de 2010

Um membro da família deprimido: Como ajudá-lo?


Conforme tinha prometido no último post, vou falar um pouquinho de como a família pode ajudar um membro da família em depressão.
Primeiro, quero explicar que quando alguém próximo de nós está deprimido, todos nós sofremos, a família toda... E ficamos loucos para vermos este ente querido com sua forma de ver a vida como era antes, sem tantas catástrofes ou tantos pensamentos pessimistas ou tantas possibilidades imaginárias de algo de pior aconteça.
Mas, normalmente, pela experiência clínica e literatura, a família passa por fases. A primeira é quando existe uma negação. Quem nunca ouviu : “ isto é manha!” ou “ dá um tanque de roupa suja que passa na hora!” ou “ é apenas uma fase, daqui a pouco passa!”
Em seguida, normalmente, a família fica agressiva com o membro doente. Uma vez, uma paciente relatou que as pessoas que ela mais gostavam a chamavam de louca! , afinal ela tomava remédios tarja preta. Na verdade, diante da impotência de fazer algo pelo indivíduo, eles se protegem agredindo. E a última coisa que alguém quer ouvir é que é maluco, que vai entrar numa camisa de força.
Em seguida, diante da não melhora do quadro, alguns familiares deprimem, pois não conseguem lidar com a doença. È a maneira ineficaz de enfrentar o problema.
E por fim, a última fase é a aceitação. Aqui, os familiares aceitam a doença, arregaçam as mangas e procuram ajudar da forma mais solícita possível.
Em minha experiência clínica, normalmente após três ou quatro encontros com o deprimido, chamo a família e explico com cuidado sobre a depressão e falo sobre as fases que a família pode vir a passar. È claro que em alguns casos, a família ajuda logo de início, mas confesso que estes casos são exceção.
Um outro ponto que explico é sobre os mantenedores da depressão. A família precisa saber dos sintomas, claro. Mas, mais importante do que a descrição da depressão é o que mantém tal quadro. E tentar desvendar este mistério. O que eu ganho com esta depressão? Quais são os meus benefícios secundários? Curioso isto...
E isto me faz me lembrar de uma moça que atendi há anos atrás que tinha uma depressão gravíssima, destas de não sair da cama... Estava de licença do trabalho. Eu ia atendê-la em casa. Super grave! E ninguém conseguia tira-la do quadro.
Mãe de três crianças, o esposo e a mãe se viravam em quatro para cuidar das crianças e enquanto isto, ela ficava deitada na cama... Claro que foi inconsciente, mas para quem tem filho em casa e sabe a trabalheira que dá, ela estava fugindo da responsabilidade de ser mãe. E o esposo e a mãe estavam mantendo o quadro. Quando ela se tocou que isto era verdade (aos prantos, claro), o processo foi caminhando...
Outra coisa, a família tem que se comprometer, cuidar e dar importância ao TRIPÉ do tratamento para depressão: psicoterapia, exercício físico e medicação. Fazendo tudo direitinho, conseguimos chegar a uma melhora bastante significativa.
Além disso, temos que entender que para quem está deprimido, atividades que eram fáceis de ser feitas, passam a ter uma enorme dificuldade. Lembro-me de um paciente, comerciante, que no momento pior da crise, ele não conseguia preencher os cheques para depositá-los no banco. O que era tão simples para ele, estava muito complicado.
E tomar decisão? Mesmo as mais simples ficam difíceis. Assim, a família deve pontuar com o indivíduo os prós e os contra de cada decisão e ajuda-lo nesta escolha.
Por fim, temos que apoiar, entender e contestar cada afirmação descrente ou pessimista. Ter um bom contato com o profissional que o atende também é imprescindível. Ajudar no tratamento é a melhor maneira para que ele fique são o mais rápido possível.
Espero que tenha esclarecido.

Um forte abraço a todos!

Luciana Brasil – Psicóloga clínica com formação em Análise do Comportamento e especialização em Cognitivo-Comportamental – Serena Psicologia

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Supervalorização do ser amado: Cadê eu?


Tenho recebido no consultório psicológico um grande número de pessoas frustradas sentimentalmente. Isso se deve a um exaustivo investimento de energia na área sentimental. Geralmente são pessoas que centralizam suas vidas no parceiro(a). Se dedicam ao extremo à pessoa amada, em consequência esperam a recíproca do investimento, o que geralmente não acontece na mesma proporção.

Existe um ideal romântico socialmente compartilhado das relações amorosas. Muitas pessoas chegam com a crença de que em nome do amor, tudo vale. Se submetem a situações em que são desvalorizadas. A auto-estima cai ainda mais.
A questão é que essas pessoas parecem ficar viciadas na atração pelo mesmo perfil, um companheiro(a) que não valorizará a relação. Sem uma boa auto-estima o relacionamento amoroso seja com a pessoa que for ficará comprometido.

Existem características que se repetem nas histórias de pessoas que supervalorizam o ser amado e esquecem de si mesmas. Geralmente as mulheres são mais afetadas que os homens. Abaixo constam algumas características do perfil feminino (por Robin Norword), embora se observe que também se aplica nos casos masculinos:

1. Vem de um lar desajustado, em que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas.

2. Como não recebeu um mínimo de atenção, tenta suprir essa necessidade insatisfeita através de outra pessoa, tornando-se superatenciosa, principalmente com homens aparentemente carentes.

3. Como não pode transformar seus pais nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, reage fortemente ao tipo de homem familiar, porém inacessível, o qual tenta, transformar através de seu amor.

4. Com medo de ser abandonada, faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento.

5. Quase nada é problema, toma muito tempo ou mesmo custa demais, se for para "ajudar" o homem com quem está envolvida.

6. Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, está disposta a ter paciência, esperança, tentando agradar cada vez mais.

7. Está disposta a arcar com mais de 50% da responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer relacionamento.

8. Sua auto-estima está criticamente baixa, e no fundo não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário, acredita que deve conquistar o direito de desfrutar a vida.

9. Como experimentou pouca segurança na infância, tem uma necessidade desesperadora de controlar seus homens e seus relacionamentos. Mascara seus esforços para controlar pessoas e situações, mostrando-se "prestativa".

10. Está muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser, do que com a realidade da situação.

11. Tem tendência psicológica, e com freqüência, bioquímica a se tornar dependente de drogas, álcool e/ou certos tipos de alimento, principalmente doces.

12. Ao ser atraída por pessoas com problemas que precisam de solução, ou ao se envolver em situações caóticas, incertas e dolorosas emocionalmente, evita concentrar a responsabilidade em si própria.

13. Tende a ter momentos de depressão, e tenta prevení-los através da agitação criada por um relacionamento instável.

14. Não tem atração por homens gentis, estáveis, seguros e que estão interessados nela. Acha que esses homens "agradáveis" são enfadonhos.

Janaina Bahia
Psicóloga - Serena Psicologia; professora de Psicologia da religião e aconselhamento cristão da faculdade de teologia FATADEB.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dymphne: a santa dos loucos e a comunidade psiquiátrica de Geel

Olá pessoal!
Estreiando aqui no blog, disponibilizo um texto bem interessante sobre Dymphne, a Santa protetora dos loucos.
Esse texto é um breve resumo sobre o livro DYMPHNE - A SANTA PROTETORA DOS LOUCOS, de 2000, do autor e psicólogo Ézio Flavio Bazzo, escritor brasileiro, pouco conhecido, com um bom toque de humor ácido, que o cotidiano merece.
Abraços,
Carolina
Psicóloga
[Meus pesadelos mais terríveis são aqueles onde me vejo refletido num espelho - com uma máscara no rosto]
J.L.Borges

A comunidade psicoterapêutica de Geel, situada a uns quarenta quilômetros de Antwerpen, na Bélgica, e em funcionamento desde o século XII, é conhecida tanto como o "paraíso dos loucos" como a "cidade misericordiosa", cuja padroeira é a santa Dymphne, aquela que e que conforta os "insensatos". Atualmente com seus trinta mil habitantes, Geel é a mais antiga colônia familiar que se tem notícia, dedicada ao acolhimento e tratamento de doentes mentais. Apesar de hoje não se encontrar, aqui quase nenhum vestígio virtual daquela época, época em que os "loucos" vinham em peregrinação de todos os lados, em carroças ou a pé, acorrentados ou soltos, aos gritos ou em total mutismo, quase sempre "enfeitiçados" ou "possuídos pelo demônio", etc., o sistema de acolhimento, de relacionamento e de tratamento, apesar de modernizado e institucionalizado, ainda conserva a mesma filosofia daqueles tempos. Aqui os doentes mentais ao invés de confinados em instituições fechadas, ficam alojados em casas de familias no interior da própria comunidade. Como norma, esse internamento familiar é temporário, mas tornou-se comum os pacientes acabarem vivendo por aqui para sempre. Considerado até pouco tempo atrás como o único local do mundo, onde os pacientes dispunham de um internamento familiar, o sistema de Geel tem ultimamente servido como modelo para aqueles países que lutam para oferecer condições mais "humanas" e mais "dignas" às pessoas que sofrem de algum tipo de transtôrno mental.

A lenda de Dymphne, surgiu por primeira vez em latim, em um documento datado em 1247. Cheia de significados incestuosos, edipianos e místicos, a lenda parece não ter ainda sido explorada como era de se esperar. Dymphne, filha de um rei irlandes, viveu no final do século VII. Apesar de seu pai ser pagão, ela, através da mãe, foi batizada e educada na fé cristã. Após a morte da esposa, decidido a encontrar uma mulher tão linda como ela, mas não encontrando em seu reino ninguém que o satisfaça, o rei resolve casar-se com a própria filha. Quando Dymphne toma conhecimento do desejo incestuoso do pai, fica escandalizada e foge para a Bélgica juntamente com um padre de nome Gerebernus (o mesmo que a havia batizado), o violinista do reino e a esposa deste. Chegando a Antwerpem, por precaução, vão refugiar-se no campo, numa cabana que eles próprios constroem, próximos ao vilarejo de Geel, local onde mais tarde é descoberta e decapitada pelo pai.. Seu corpo foi enterrado ali mesmo, próximo a uma capela dedicada a São Martin. Mais tarde quando os nativos desenterraram seu corpo para transferí-lo para a igreja, perceberam que os ossos estavam protegidos e recobertos por um material desconhecido na região. Da conclusão de que Dymphne havia sido enterrada ou pelo menos protegida pelos anjos, advém tanto a necessidade de considerá-la Santa como a de invocar sua proteção, principalmente contra as doenças mentais, já que ela havia sido vítima do , seu pai. A partir de então, começam a chegar peregrinos de todos os lados para suplicar cura à Santa Dymphne. Os doentes chegavam a Geel e eram conduzidos a um pequeno barracão construído ao lado da igreja, conhecido por quarto dos doentes ou Liber Innocentium onde permaneciam por nove dias, sob "tratamento": penitências, rezas, expiações religiosas, exorcismos. etc,. Terminada a novena, independente do doente estar ou não, ele voltava para sua família ou permanecia alojado, albergado ou internado junto às famílias e aos próprios moradores da vila. Em muitos casos, os pacientes passaram a viver definitivamente em Geel, criando assim, de maneira espontânea, uma alternativa para os então tenebrosos tratamentos que eram aplicados aos enfermos da mente. Pela dedicação e compreensão que Geel, sob forte influência e domínio religioso dispensa aos doentes mentais, passa a ser considerada a "cidade misericordiosa", e inaugura assim o que hoje se conhece por tratamento familiar terapêutico, uma maneira interessante e eticamente digna de se lidar com a controvertida questão da "loucura". E é importante notar que o sistema psiquiátrico implantado em Geel naquele tempo, antecedeu, e em muito, a revolução psiquiátrica levada a cabo mais tarde, pelo Dr. Pinel, na Salpêtriere. É evidente que a realidade de Geel deve tê-lo influenciado.
Podem ser internados em Geel pacientes de toda a Bélgica, uma vez que as normas básicas exigidas pela comunidade sejam atendidas. Vejamos os passos principais para o acolhimento de um doente:

(a) A admissão dos pacientes: As instituições que desejam fazer o encaminhamento, devem antes avaliar se o comportamento social do candidato é conciliável com as normas de tolerância da comunidade local; as questões de seguro/saúde do paciente devem estar em dia, para que questões financeiras não venham interferir na importante integração do doente com a família que o aloja. Ao chegar no Hospital Central, o paciente passa por uma seleção e por um contrôle rigoroso antes de ser encaminhado para o internamento familiar. Os relatórios enviados pelo hospital psiquiátrico ou pelas instituições que estão encaminhando o paciente a Geel, relativos à situação psicológica, médica e comportamental do doente, constituem o ponto de partida da seleção. Quando isto não é suficiente, o paciente fica sob a observação do "Comitê de Internamento", composto por médicos, sociólogos, psicólogos e psiquiátras. Após a indicação favorável ao internamento familiar, é ouvido o paciente e seus familiares. Em seguida o paciente e a família que o alojará são apresentados, entram em acordo e o internamento é imediatamente efetuado. Quando necessário, é colocado em prática um processo de integração.

(b) As famílias que alojam os doentes:As famílias que se propõem a alojar um ou mais doentes mentais em suas casas são famílias comuns da região e das origens sociais mais variadas. Frequentemente são pessoas acostumadas, desde a sua infância, a visitar ou até mesmo a conviver com pessoas portadoras de algúm tipo de doença mental, e que não vêem nenhum tipo de impedimento nem de risco nesse tipo de convivência. São famílias que normalmente dispõem de um quarto para alugar, que necessitam complementar sua renda financeira ou mesmo que estão dispostas a tornar menos monótono o seu cotidiano. Depois de candidatar-se junto ao hospital, a família passa por uma entrevista onde vai se verificar a localização e as condições de sua casa, o seu comportamento social, a presença ou não de eventuais doenças transmissíveis, sua vida familiar, etc.

(c) Como é feito o atendimento:O município de Geel é dividido em 15 bairros e cada um deles é atendido por equipes específicas, que se deslocam diariamente em transporte particular ou coletivo para supervisionar e dar assistência aos 800 pacientes que vivem distribuídos por todos os bairros. A esta supervisão feita pelo médico e pelo enfermeiro cabe fundamentalmente observar o modo de coabitação do doente no seio da família bem como seu estado de saúde, tanto física como mental. Os medicamentos necessários são fornecidos pela instituição central, bem como quaisquer outras formas de terapias que sejam recomendadas, tais como: terapia da motricidade, kinésiterapia, logopedia, ergoterapia e terapia criativa. Também podem ser recomendadas psicoterapias, em grupo ou individuais, que podem ser ministradas no hospital central ou em uma das casas do bairro. Os pacientes podem solicitar assistência ao hospital central durante as 24 horas do dia, tanto para uma simples consulta como para um internamento de urgência. Enfim: ações integradas, uma política e uma filosofia de saúde parecem, por si só, facilitar o e, como escreveu Pierre Morel, fazer com que o destino trágico da pobre Dymphne não tenha sido em vão.
Para nós, no Brasil, que ainda não conseguimos nos livrar completamente de nossos manicômios medievais, é impossível conhecer a comunidade terapêutica de Geel sem sentir por ela um imenso respeito. E ela pode até nem ser o e muito menos a , como a denominaram durante centenas de anos, mas é, sem sombra de dúvidas, um modelo de atendimento público em saúde mental digno de qualquer país verdadeiramente civilizado.
(Publicado em 1999, no jornal da Universidade de Brasília)
Bom dia pessoal!

Gostaria de compartilhar um texto que gosto muito de William Shakespeare. É possível que alguns já conheçam, mas vale a releitura.

Forte Abraço,
Sofia Lisboa
Psicóloga - Serena Psicologia


DEPOIS DE UM TEMPO...

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terrenodo amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume decair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto pormuito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoassimplesmente não se importam...E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para três.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.

E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.
(William Shakespeare) Pela transcrição: Antonio Carlos

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Drogas e Direção

Bom dia pessoal!

A temática "drogas e trânsito" tem aparecido com freqüência nos veículos de comunicação. E não é por menos! Estatisticamente, milhares de pessoas morrem, matam ou ficam com algum tipo de seqüela irreparável devido ao uso de drogas associado à direção. O endurecimento do código de trânsito corrobora com a mentalidade que o uso de substâncias que retardem o tempo de reação do motorista, ou simplesmente alterem funções cerebrais, não podem coexistir.

Uma das principais políticas de prevenção do Ministério da Saúde, em parceria com o DETRAN, é: "Se for beber não dirija!". Mas não só o álcool interfere na segurança do motorista e de todos ao seu redor.

Este vídeo - http://www.youtube.com/watch?v=KxuywoCXPBE - mostra o que as políticas brasileiras de prevenção não têm abordado com ênfase, que é o uso de outras drogas (lícitas ou ilícitas) e seus efeitos quando associadas à direção.

Lembramos que é um ato egoísta dirigir sob o efeito de drogas, pois:

1. Você pode MATAR um terceiro, fazendo sofrer seus familiares;
2. Você pode MATAR um parente ou amigo que esteja em sua companhia;
3. Você pode MORRER e causar muito SOFRIMENTO aos que te amam.

Por isso, antes do vício pense sempre no OUTRO!

Sofia Lisboa
Psicóloga - Serena Psicologia

Drogas e Direção / Drogen und Agenturen / Drogas y coches

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Depressão: a gripe da psiquê

Em minha experiência de consultório, o diagnóstico mais presente sem dúvida é a Depressão. Podemos dizer que esta é a gripe dos consultórios de Psicologia. Pela Organização Mundial da Saúde, 4 % da população vai ter um episódio depressivo em algum momento de sua vida.
Aliado a isto percebemos que quando estamos tristes logo falamos que estamos deprimidos. Mas, Depressão é muito mais do que um estado melancólico, uma tristeza por que acabou um namoro ou uma pequena tolerância à frustração.
Depressão em alguns casos é incapacitante… O indivíduo apresenta sintomas em quatro eixos principais:

a) Disposição de ânimo:
 Tristeza, mau-humor ou desânimo;
 Irritação e incapacidade de lidar com as exigências do dia- a- dia;
 Sentir culpa e censurar-se;
 Incapacidade de experimentar prazer,
 Ansiedade.

b) Modo de Pensar:
 Enxergar-se de forma negativa;
 Autocrítica exagerada;
 Expectativas negativas e dúvidas quanto ao futuro;
 Dificuldades para tomar decisão;
 Pensar em suicídio;
 Falta de concentração e memória.

c) Comportamento:
 Diminuição nas atividades;
 Falta de energia e motivação;
 Acesso de choro;
 Preguiça;
 Isolamento social e dependência das pessoas;
 Aumento do uso de álcool ou drogas.

d) Saúde Física:
 Perda de apetite;
 Dormir ou comer demais;
 Alteração nos padrões de sono;
 Perda de interesse em atividades sexuais;
 Dor, sofrimento e problemas gastrointestinais;
 Mal-estar físico.

O objetivo deste post não é fazer diagnóstico de ninguém, mas sim, alertar que depressão é uma doença que necessita ser aceita, tratada e cuidada com responsabilidade pelo próprio paciente e pela família.

Mas, por que apresentamos este quadro?
Percebo vários fatores fundamentais para o desencadeamento da depressão, inclusive os de hereditariedade, mas sem dúvida um enfrentamento ineficaz de problemas pode levar a um quadro depressivo.
Uma vez atendi um jovem de 17 anos que estava deprimido por que não tinha passado no vestibular da UnB… Será que todo mundo que não passa no vestibular de uma universidade federal desencadeia depressão?
Claro que não… Mas isto depende muito da maneira que lidamos com os problemas.
Por isso, é importante criarmos habilidade para enfrentar os nossos obstáculos. Autonomia, tolerância à frustração e assertividade são características que podem evitar tal quadro.
Por outro lado, é importante pensar que tipo de pessoas estamos educando quando desde a infância impedimos ou superprotegemos dos problemas e/ou situações situações difíceis da vida.
Por fim, perdas, frustação e sofrimento são necessários para o nosso crescimento e amadurecimento.
No próximo post, listarei dicas para os familiares. Durante esta semana, estarei recebendo perguntas.
Um forte abraço a todos,

Luciana Brasil – Psicóloga clínica com formação em Análise do Comportamento e especialização em Cognitivo-Comportamental.

domingo, 6 de junho de 2010

Bem vindos ao blog Serena Psicologia

Com dois anos de atuação no mercado, a Serena Psicologia prima pelo bom atendimento aos nossos clientes e parceiros. Oferece os seguintes serviços:

- Psicodiagnóstico;
- Psicoterapia infantil;
- Psicoterapia para adultos;
- Grupos específicos de apoio;
- Psicoterapia familiar;
- Reeducação e reabilitação de dependentes químicos;
- Orientação profissional;
- Palestras
- Workshops


Desta maneira, com a pretensão de executar um trabalho de excelência não só em seus consultórios, abre no blogspot um espaço para troca de vivências e informações.
Será ótimo se vocês puderem usufruir e colaborar desta nova proposta.
Bem vindos!!