Quando se trata de saúde psíquica o correto é considerar a pessoa como um ser bio-psico-sócio-cultural e espiritual. Para a compreensão do fenômeno psicológico que coloca a pessoa em situação de sofrimento é necessário se atentar para o todo da pessoa.
A religiosidade das pessoas costuma ser pouco explorada por psicoterapeutas, talvez pelo receio de tornar a Psicologia menos científica, pois se sabe que há séculos foi travada uma guerra entre ciência e religião.
Interessante observar que alguns pacientes chegam a dizer: “isso que vou te contar eu só confessaria a um padre”. Seria esse um dos motivos de ainda existir certa rivalidade entre ciência e religião? Seria uma disputa pelo fenômeno a causa de se estranharem?
Sabe-se que, muitas vezes, a busca pelo consultório psicológico vem carregada de desesperança, pois a pessoa já tentou várias alternativas para resolução de seus conflitos. Dentre estas alternativas a busca por uma vivência espiritual pode ter sido frustrada. No entanto, são incontáveis os relatos de pessoas que declaram só ter suportado determinadas situações porque “Deus deu força a elas”.
Existem posicionamentos contrários, porém é inegável que a religião é fator de promoção de saúde psíquica.
A vida é complexa demais para apenas a ciência, ou apenas a religião, ou apenas a filosofia darem conta das explicações para compreensão de tantos questionamentos. Portanto, o inteligente é utilizar as idéias que combinam entre si para promover ajuda a cada paciente. Devemos sim incentivar aos nossos pacientes o desenvolvimento de cada área de suas vidas que ficaram no esquecimento, seja a prática de exercícios físicos, seja o incentivo para cuidar da alimentação, seja a procurar um psiquiatra para verificar a necessidade ou não do uso de medicamento, seja a ida a algum evento religioso, social, e por aí vai. O que se busca é o desenvolvimento e equilíbrio em cada área.
Observemos, por exemplo, um conceito de religião dado por um psicólogo da religião: “os sentimentos, atos e experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se sintam relacionados com o que quer que possam considerar o divino” (JAMES, 1995). Este conceito menciona a solidão, e coloca a vivência espiritual como possível forma de enfrentamento desta solidão.
O que dizer a um paciente que traz questões relacionadas a morte sem abranger aspectos religiosos? Como tratar o luto sem tocar em tal aspecto? Claro que os recursos do próprio paciente são avaliados e potencializados e de acordo com o adequado para ele se planeja o tratamento.
Ao invés de ficarmos considerando tantas coisas como antagônicas, é melhor observar que há nelas que podem se complementar.
Janaina Bahia – Psicóloga - Serena Psicologia; professora de Psicologia da religião e aconselhamento cristão da faculdade de teologia FATADEB.
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